terça-feira, 11 de março de 2014

David Luiz: Do que tenho que ter medo?

Em entrevista a Gillette Brasil Global Tour, zagueiro do Chelsea fala sobre fé, motivação, espírito de equipe e da expectativa em torno da seleção brasileira

David Luiz está provocando Bernard. No momento em que percebeu que o companheiro de time ia dormir no longo vôo até Joanesburgo, o zagueiro começou a brincadeira. 

Ele começa - literalmente - colocando o meia do Shakhtar para dormir. Uma vez que ele considerou o franzino jogador bem instalado, começou a cantar uma canção de dormir. Na hora em que pegou o livro para contar uma história para Bernard pegar no sono, David fez os colegas de Chelsea, Oscar e Willian caírem na gargalhada. 

“Bernard é como um irmão para mim", revela David Luiz em entrevista exclusiva a Gillette Brasil Global Tour.

“Quando ele foi convocado pela primeira vez, disse a ele que cuidaria dele e que o protegeria. Esse é o meu trabalho como segundo capitão do time. 

"Bernard tem um grande coração, temos um ótimo relacionamento e sempre nos divertimos muito.”

Diversão parece seguir David Luiz aonde quer que ele vá, mas uma vez que ele percebeu que Bernard realmente precisava descansar, David deixou o amigo quieto e foi escolher um filme para passar o tempo. Optou por "Vôo", estrelado por Denzel Washington. Escolha que gerou olhares estranhos e comentários. Afinal, é um filme sobre um quase acidente aéreo. 

“Do que tenho de ter medo?" ele pergunta. "Tenho Deus no meu coração". 

Fé é algo muito importante para David Luiz. A fé dá a ele força. Sua visão positiva da vida é quase contagiosa. Também serve como parâmetro para o bom momento que a seleção brasileira vem vivendo após a conquista da Copa das Confederações. David encara o torneio como um ponto de virada do time. 

“Foi o momento em que mostramos ao mundo o velho Brasil, o Brasil conhecido. Quando eu era criança via a seleção pela televisão, sempre ganhando seus jogos e com jogadores incríveis. 

“(Na Copa das Confederações) Todos se uniram: a equipe, a torcida. Esse era o nosso diferencial. Lembro que depois do jogo da final, conversando com jogadores espanhóis que atuam no Chelsea, eles me disseram que quando viram todo o estádio cantar o hino nacional daquele jeito... viram que seria impossível nos vencer naquele dia." 

A seleção brasileira começou a competição com apenas três vitórias em nove jogos disputados. Desde a estréia, contra o Japão, quando venceu por 3-0, a seleção ganhou 12 de 13 partidas. 

Converso com David Luiz após mais uma rodada da Gillette Brasil Global Tour, na África do Sul. O Brasil goleou a seleção local por 5-0. Durante o vôo, os jogadores que atuam na Europa estão ouvindo música, dançando, cantando e contando piadas. Neymar e Dani Alves brincam de DJs.

O lateral Rafinha, do Bayern de Munique, rouba a atenção do grupo ao desafiar os jogadores para uma competição de rima, uma espécie de pagode misturada com batalha de rap, sempre na base do improviso.

Todos estão dançando, brincando, enquanto Rafinha mostra talento como rapper. Para quem vê tudo isso de fora, a ligação entre eles parece inquebrável. 

“Esta é a melhor atmosfera de grupo que experimentei em toda a minha carreira", explica David Luiz, de 26 anos. “É muito especial fazer parte desse time. Somos uma família. Gostaria de passar mais tempo com eles". 

Mais uma vez, mérito do técnico Luiz Felipe Scolari. Sua desacreditada equipe de 2002, sagrou-se campeã, graças ao bom futebol mas também ao que a imprensa brasileira classificou como o espírito de grupo, apelidado de "Família Scolari". 

Mas como ele mantém esse grupo forte?

“Scolari é duro quando tem de ser e muito positivo quando necessário. É direto e transparente. É um treinador fantástico e uma pessoa incrível. É como um pai para todos nós". 

“Ele sempre quer que a gente trabalhe duro para estarmos prontos tática e mentalmente. Mas ele também quer que estejamos felizes. Acho que isso é parte da nossa cultura, do brasileiro, e ele nunca esquece isso". 

Na Copa de 2014, a seleção quer afastar de vez os fantasmas de 1950, quando o Brasil perdeu aquele que seria seu primeiro título em casa. A equipe foi derrotada pelo Uruguai por 2-1. 

Com 200 milhões de brasileiros querendo nada mais que a vitória na Copa do Mundo, muitos dizem que a pressão pode atrapalhar. Não para David Luiz. 

“Acho que é uma coisa boa,” ele diz. “Porque nos dá a exata dimensão da importância que ganhar a Copa do Mundo tem para o povo brasileiro.”

E vocês vão ganhar a Copa do Mundo? "Claro!"

Ganhar a Copa, todos sabem, significa se transformar em herói nacional. Mas para David Luiz, futebol é muito mais que títulos. 

“O melhor título da minha carreira foi quando uma senhora me parou em um shopping em Lisboa, quando eu jogava no Benfica", conta o campeão da Champions League, da Liga da Europa e com diversos tírulos portugueses na bagagem. 

“Ela me disse, ‘Obrigada’. Eu perguntei porque e ela me contou, ‘há uma semana você deu uma entrevista falando sobre seus princípios, seu amor por sua família e o respeito que devemos mostrar pelas pessoas. Você disse como é importante dizer aos pais que os amamos. Meu filho é seu fã e ontem, pela primeira vez, ele me disse que me amava". 

"Todo mundo se uniu durante a Copa das Confederações: o time e a torcida. Esse foi o nosso diferencial."

- David Luiz

“Claro! Sempre dou o meu melhor em campo porque no futebol moderno, nós, jogadores, temos a chance de fazer a diferença na vida das pessoas.”

Luiz pratica o que costuma dizer. Seu amigo de infância Rodrigo, que hoje é uma espécie de assessor do jogador, só "recebeu" o trabalho após garantir a David Luiz que cursaria uma faculdade. 

E, enquanto a seleção viaja pelo mundo pela Gillette Brasil Global Tour, David gosta de parar, conversar com as pessoas, saber seus nomes. 

“Não chegarei ao topo sozinho", ele insiste. "Todo mundo é importante para mim. Todos fazem parte do meu sucesso e tento retribuir". 

“Minha mãe sempre me disse para eu respeitar a todos. Pode ser o Presidente ou apenas um cara que trabalha durante um jogo. Temos que respeitar as pessoas porque um dia precisaremos delas."

"Gosto disso, gosto de ver as pessoas felizes. Me sinto mais vivo". 

E Bernard? Agora acordado e já no ônibs que os levará para o hotel, pula nos ombros do "imão mais velho" querendo uma brincadeira. David Luiz, mais uma vez, vai fazer o que sempre faz: colocar sorrisos nos rostos das pessoas. 


in Goal.com

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